Prática do Jiu-Jitsu no alto Santa Terezinha
Com suporte da Prefeitura, iniciativa vem inserindo conceitos das artes marciais na realidade de crianças e adolescentes
O esporte como agente que impulsiona o desenvolvimento. No caso das artes marciais, a filosofia amplia ainda mais o autonhecimento, algo fundamental principalmente quando se trata de jovens moradores de comunidades carentes. Um projeto de Jiu-Jitsu mostra seu valor em um contexto cheio de desafios.
Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco
Com o suporte do projeto social, João Lucas conseguiu disputar sua primeira competição internacional
A comunidade do Alto Santa Terezinha é contemplada há 11 anos por um projeto social que incentiva jovens e crianças carentes do bairro. Com o objetivo de ofertar a inclusão social por meio da leveza e disciplina das artes marciais, o Projeto Social Alto Santa Terezinha vai ganhando mais visibilidade, contando com o apoio da Prefeitura do Recife e da Secretaria de Segurança Urbana.
É na aposta de usar o esporte como importante ferramenta para educar os jovens que o projeto social cresce. “Os principais critérios para participar dos nossos treinos é ter um bom desempenho escolar e ter disciplina”, conta o faixa preta e professor de Jiu-Jitsu, Daigo Rodrigues. São aproximadamente 220 atletas de várias modalidades e como a presença dos alunos nos treinos depende muito do rendimento escolar, eles acabam tendo um maior direcionamento nos aspectos acadêmicos, “Levamos a sério os resultados escolares porque acreditamos que o estudo deve andar junto com o esporte. São muitos atletas, mas é um em cada 100 alunos que não vai bem na escola”, completa Daigo.
O Centro Social Urbano Afrânio Godoy, onde funcionava o local de treino do projeto, foi temporariamente fechado para a reconstrução da academia e passará a se chamar Compaz (Centro Comunitário da Paz). Com um novo dojô de 15m x 15m, o espaço pretende reunir, no mínimo, 600 alunos, levando oportunidade para mais jovens da comunidade. O centro também contará com uma biblioteca para incentivar ainda mais os atletas. “Com certeza o Compaz vai dar o que falar, vai fazer história aqui e formaremos muitos campeões”, fala Daigo com satisfação do trabalho que faz. Com previsão de entrega para o começo do ano que vem, o Compaz terá na sua inauguração a presença do lutador de MMA Michael William, que começou a praticar arte suave no Projeto do Alto Santa Terezinha, além do ex-judoca Flávio Canto.
São mais de dez anos desde o início do projeto e muitos alunos chegaram a alcançar seus objetivos dentro do esporte. É o caso de Washington Júnior, hoje professor de Jiu-Jitsu do projeto e de mais cinco escolas municipais. “Nós descobrimos muitos talentos aqui, com alunos se destacando com quatro meses de treino a outros que já estão a mais tempo e mostra a evolução dentro da modalidade”, fala Daigo.
Façanha conquistada na Flórida
Com 16 anos, bom aluno e de sorriso humilde, João Lucas Ferreira é um dos nomes que tem destaque no Projeto Social Alto Santa Terezinha. No dia 18 de outubro ele participou do Miami Open de Jiu-jistu, na Flórida, Estados Unidos, representando o projeto na categoria Médio Juvenil Azul. O atleta viajou com o professor Daigo e teve uma rotina de treinos puxados para competir no evento. “A competição foi de alto nível e com certeza a luta final foi a mais dura. Lutei com um aluno de Miami e ele era muito forte”, conta Lucas. Mesmo com a dificuldade da luta final, o atleta recifense conquistou o primeiro lugar na competição. “João Lucas é muito disciplinado e com muito treino antes de viajar conseguimos o resultado que queríamos”, fala o professor Daigo.
Treinando desde os oito anos com o professor, o atleta se apaixonou logo na primeira impressão que teve do esporte. “Conheci o projeto e o jiu-jitsu através do meu primo. Ele me chamou para assistir um treino e estou aqui até agora”, diz.
Lucas já foi destaque em outras competições como a Black Bull de 2012 na qual venceu as três primeiras etapas e a The Best Fight, em Fortaleza, onde obteve a segunda colocação. “Tive a oportunidade de competir em outros campeonatos, mas o meu maior desafio e conquista foi o Miami Open esse ano”, emenda João Lucas.
O atleta tem sonhos e com a ajuda do Jiu-Jitsu pretende ir longe tanto no esporte quanto na vida profissional que já escolheu. “Não vou parar de estudar, vou fazer engenharia e direito, mas sempre treinando jiu-jitsu”, fala Lucas.
Saiba Mais
Rotina – Cursando o primeiro ano do ensino médio João Lucas divide as horas, de segunda a sexta-feira, entre as aulas pela manhã e os treinos de Jiu-Jitsu, que acontecem durante a tarde e a noite.